quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Nas asas do meu eu


Há dias em que se turva a mente com coisas tóxicas.
Alguém que se julga senhor da verdade e da razão e que me fere com atroz sentença.
Outrem que se julga exemplo de pastor e que me derruba com sua moral do "vê o que eu digo mas ignora o que faço".
As emoções que se baralham com a razão.
O coração que há força de tantos remendos já declarou guerra à mente que sempre sai vitoriosa.
A memória já fraqueja em sinal de protesto. Não sei o que vesti nem o que calcei mas estou perfeitamente confortável apesar de nem saber como cheguei aqui. Afinal onde estou…
Recosto-me, abandono este corpo prostrado na cadeira. Vejo-me sobre todos os outros corpos, sou leve como uma pluma. Ao longe música e subitamente um calor como que uma alegria tomam-me por completo. Renovo as forças, renovo as vontades e deixo-me guiar pelo cheiro daquele som.
Não me ceguei mas não enxergo quem me ajuda a não tropeçar nos próprios pés, aqueles que ficaram entrelaçadamente prostrados na cadeira. A música parece alimentar-me de uma nova vida… é uma valsa reconheço. Não me ceguei mas não enxergo as enormes saias que me esvoaçam à força das voltas e voltas desta dança tao reconfortante.
Não me ceguei mas não enxergo nada e mesmo assim sinto-me leve, forte e estranhamente feliz. Deslizo e rodo e tudo é técnica do mais apurada e perfeita que algum dia vi, senti ou vivi. Estou leve e forte e estranhamente feliz.
Não me ceguei, enxergo-me a mim…. Longe, leve e forte; sem receios de horários para cumprir, de refeições para confecionar, de profissionalismo para atingir. Estou perfeita e perfeitamente feliz.
Não me ceguei mas….
De repente sinto um toque forte no braço, aquele que deixei ficar profundamente prostrado na cadeira. Alguém chama…. Não, não, NÃÃÃÃOOOOO! Só mais uns minutos…. Uns segundos.
Não me ceguei. De facto, não ceguei, vejo até muito bem toda esta gente à minha volta a pedir isto, aquilo, o outro e até o impossível. Sou eu…. Voltei à cadeira, ao corpo prostrado e adormecido, às guerras entre emoções e razões e entre as razões do meu ser e as razões dos outros.
Voltei aos julgamentos dos senhores das verdades absolutas… logo agora que tinha finalmente chegado onde tanto queria estar.
Quero um cigarro, uma garrafa de vinho, um xarro, um xanax , quero algo que me permita viver ali por mais tempo. Um comprimido azul, como o saco ou como o lápis, que me permita viver ali e aqui. Estar inebriadamente presente e feliz com a dor de não ser perfeita aos olhos do alguém e do outrem… e de quem mais vier cheio de si.

Suzy

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