Há dias em que se turva a mente
com coisas tóxicas.
Alguém que se julga senhor da
verdade e da razão e que me fere com atroz sentença.
Outrem que se julga exemplo de
pastor e que me derruba com sua moral do "vê o que eu digo mas ignora o
que faço".
As emoções que se baralham com
a razão.
O coração que há força de
tantos remendos já declarou guerra à mente que sempre sai vitoriosa.
A memória já fraqueja em sinal
de protesto. Não sei o que vesti nem o que calcei mas estou perfeitamente
confortável apesar de nem saber como cheguei aqui. Afinal onde estou…
Recosto-me, abandono este corpo
prostrado na cadeira. Vejo-me sobre todos os outros corpos, sou leve como uma
pluma. Ao longe música e subitamente um calor como que uma alegria tomam-me por
completo. Renovo as forças, renovo as vontades e deixo-me guiar pelo cheiro
daquele som.
Não me ceguei mas não enxergo
quem me ajuda a não tropeçar nos próprios pés, aqueles que ficaram
entrelaçadamente prostrados na cadeira. A música parece alimentar-me de uma nova
vida… é uma valsa reconheço. Não me ceguei mas não enxergo as enormes saias que
me esvoaçam à força das voltas e voltas desta dança tao reconfortante.
Não me ceguei mas não enxergo
nada e mesmo assim sinto-me leve, forte e estranhamente feliz. Deslizo e rodo e
tudo é técnica do mais apurada e perfeita que algum dia vi, senti ou vivi.
Estou leve e forte e estranhamente feliz.
Não me ceguei, enxergo-me a
mim…. Longe, leve e forte; sem receios de horários para cumprir, de refeições
para confecionar, de profissionalismo para atingir. Estou perfeita e
perfeitamente feliz.
Não me ceguei mas….
De repente sinto um toque forte
no braço, aquele que deixei ficar profundamente prostrado na cadeira. Alguém
chama…. Não, não, NÃÃÃÃOOOOO! Só mais uns minutos…. Uns segundos.
Não me ceguei. De facto, não
ceguei, vejo até muito bem toda esta gente à minha volta a pedir isto, aquilo,
o outro e até o impossível. Sou eu…. Voltei à cadeira, ao corpo prostrado e
adormecido, às guerras entre emoções e razões e entre as razões do meu ser e as
razões dos outros.
Voltei aos julgamentos dos
senhores das verdades absolutas… logo agora que tinha finalmente chegado onde
tanto queria estar.
Quero um cigarro, uma
garrafa de vinho, um xarro, um xanax , quero algo que me permita viver ali por
mais tempo. Um comprimido azul, como o saco ou como o lápis, que me permita
viver ali e aqui. Estar inebriadamente presente e feliz com a dor de não ser
perfeita aos olhos do alguém e do outrem… e de quem mais vier cheio de si.
Suzy
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