sábado, 5 de abril de 2014

Feltro, Eva e botões?

Olaré pim pim,

o puto dormia a sesta e a pitorra queria fazer alguma coisa. As bolas vermelhas e laranjas diziam que a TV estava fora do horizonte. O que fazer?....

Ganchos, não fosse esta miúda uma vaidosa "de primeira" :) A mãe meteu mãos à obra. Depois de remexer os baús de aproveitamentos, cá ficam os resultados obtidos.





Está em pulgas para os usar.
Suzy

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O velhinho Nicolau e a menina Júlia

Esta é uma história inspirada na minha filhota (Maria) e nos idosos com quem me cruzo todos os dias.

Foi escrita por mim e levada a cena com um conjunto de mães, educadoras e auxiliares do CASS. Espero que gostem :)

O velhinho Nicolau e a menina Júlia
A história começa com um grupo de crianças que passa diante de um velhinho sentado num banco, com ar pesado, de roupas velhas e escuras, de barbas brancas e com uma garrafa na mão. (a garrafa pode ser de água mas convém que o liquido dentro dela, tenha cor). À espreita está uma menina pobre.
As crianças apontam o dedo ao idoso e conversam entre elas.
Cila - Dizem que é bruxo.
Admiração de todos.
Elsa - Não é nada. Ouvi dizer que é muito mau.
Expressão de medo de todos.
Susana - Também ouvi dizer que é vadio, sempre bêbado, olhem a garrafa dele.
Expressão de gozo de todos imitando gestos típicos de bêbados.
Maria - Sabem, não acho nada bem o que dizem, nem o conhecem. (sai do grupo e dirige-se ao senhor dizendo) Boa tarde senhor.
(o velhinho expressa um sorriso largo e responde)
Sr. Nicolau - Boa tarde minha linda menina. Não devias falar comigo. Os teus pais por certo não vão gostar e todos dizem por aí que sou mau. Vê lá não vás ser castigada por causa de um velho.
A menina olha para ele com atenção, com tristeza fica cabisbaixa e segue o caminho. As outras crianças aparecem.
Cecília - Que te disse ele?
Elsa - Aposto que te queria bater. Não devias falar com ele, sabes?
Cila - Pediu-te dinheiro?
Sara - É apenas um velho…
Maria - Sim, é apenas um velhinho. Não quis bater-me nem me pediu nada. Lembrou-me que os meus pais não gostam que lhe fale e que se alguém visse podia ser castigada.
(silêncio)
Maria - Mas eu tenho pena do senhor. Está sempre sozinho e triste.
Susana - Ora… nem triste nem sozinho. Está acompanhado pela sua garrafa de vinho. (voltam os gestos de bêbado).
Elsa - Sabes, se não fosse mau não estaria sozinho. Devias era vir brincar connosco e deixar o velhinho em paz.
Começam a brincar ao berlinde e às bonecas.
Cecília - Já escolhi a minha prenda de Natal, sabem. Pedi aos meus pais um carrinho de bombeiros. Tinóni, tinóni….
Sara - Ah eu também, vi na televisão uma boneca espectacular e vem com o guarda vestido e todos os acessórios de moda… É tao linda.
Cila - Eu pedi uma bicicleta, um telemóvel e uns patins.
Maria - Mas, vocês não escrevem ao pai Natal?
Susana - Olha que totó.
Cecília - O Pai Natal são o pai e mãe ou não sabes?
Maria - Podem até ser mas eu vou escrever ao pai Natal. Este Natal quero apenas uma boneca. Os meus pais dizem que não podemos pedir muita coisa que a crise também chegou a casa do Pai Natal. Na verdade a crise é tão grande que para ter dinheiro para nos dar presentes, nem vai ao barbeiro e por isso tem a sua barba e cabelos tão cumpridos.
Riem-se todos.
Sara - Xiiii…. A noite está a chegar temos de ir para casa.
Saem a correr. O Sr. Nicolau também se levanta e sai de cena. Júlia entra em palco como que a investigar o espaço de brincar e senta-se no chão. Inicia a música. A Lua e a(s) estrela(s) aproximam-se e dança-se uma música. A lua e a(s) estrela(s) embalam e deitam a Júlia e saem. Entretanto entra o Sol, brinca um pouco com a Júlia e esta acaba por se levantar e voltar a esconder-se. O Sr. Nicolau chega novamente e senta-se no seu banco. Inicia-se a brincadeira com as crianças a virem da escola ao som da música “Bom dia”. As crianças passam pelo velhinho. Umas riem-se e outras fogem. A menina fica diante dele, apesar de outros a puxarem.
Maria – Bom dia senhor.
Sr. Nicolau – Bom dia minha menina. Não tens medo de mim?
Maria - Não senhor. Faz-me lembrar um avô como os que há na minha escola. Eles também ficam sentados à espera que o dia passe e que outro venha.
Sr. Nicolau - Pois quando chegamos a velhinhos é assim. Todos acham que somos maus e chatos.
O grupo dos meninos fica de lado, desinteressado e a brincarem uns com os outros. Num cantinho Júlia fica à espreita.
Maria - Que tem nessa garrafa?
Sr. Nicolau - Que achas que é? Vinho?
Maria - Todos dizem que és bêbado. Isso é vinho?
(o velhinho ri-se)
Sr. Nicolau - Não minha querida, é chá. Faz-me bem beber chá, mantém-me quentinho no inverno.
Maria - Ahhh… então não és bêbado. A minha mãe bebe chá de manhã à noite e ela não é bêbada.
(risos)
Sr. Nicolau - Pois claro. É uma tradição muito antiga doutro país.
Maria - Tu, conheces outros países?
Sr. Nicolau - Claro que sim. Quando tinha idade dos teus pais, eu viajava muito. Viajei tanto que me esqueci de casar e ter filhos. Por isso é que agora vivo sozinho… até os meus dias terminarem.
Maria - Tu não tens amigos?
Sr. Nicolau - Tenho, minha querida. Alguns estão em escolas como as tuas, outros já estão com Jesus. Fiquei eu aqui no banco do jardim. Venho ver os passarinhos e quem passa.
Maria - Tu não és mau (diz decidida)
Sr. Nicolau - Não, acho que não mas mesmo assim não devias falar com estranhos, sabes. Os teus pais tem razão.
Maria - Pois é… como te chamas?
Sr. Nicolau - Nicolau.
Maria - Pronto, eu sou a Maria e agora já não somos estranhos.
(risos de ambos) Maria afasta-se para se juntar ao grupo que brinca.
Júlia - Olá - diz cheia de vontade a menina pobre
Elsa - Ah? Quem és tu?
Júlia - Sou a Júlia.
Cila - Porque nos espreitas há vários dias?
Júlia - Porque não tenho amigos e ficava entretida a ver-vos brincar. Não sabia que me tinham visto.
Cecília - Eu vi-te. Achei que nos querias fazer alguma maldade. Porque não vens brincar connosco?
Júlia - Bem… eu não tenho nada para brincar.
Elsa - Pois nem para brincar nem para vestir. Já viste como estás toda rota?
Sara - E olha que uma banhoca já te fazia falta. (gestos de cheirete)
Susana - Como é que consegues que a tua mãe te deixe não tomar banho? (risos)
Júlia - Só tomo banho de vez em quando, não tenho casa de banho… (vergonha)
Elsa - Como é possível? Toda a gente tem casa de banho…
Cila - E na escola deixam-te andar assim?
Júlia - Também não vou à escola. A minha mãe diz que não tem dinheiro para me por na escola.
Elsa - Ahhhh então por isso é que não tens amigos.
O Sr. Nicolau levanta-se e lentamente sai de cena.
Susana - Sabes a escola às vezes é uma chatice, metem-me de castigo tantas vezes.
Cecília - Olha, se te portasses bem não te punham de castigo. Quem te manda fazeres disparates?
Susana - Ui… é mais forte que eu. Sabes, no outro dia colei uma pastilha elástica nos cabelos à professora, eheheh.
Júlia - Ah mas isso não se faz… e mesmo assim ainda tens amigos para brincar? Se calhar a escola é um sítio porreiro. É lá que acontece o Natal? Ouvi-vos a falar nisso…
Elsa - O Natal?
Cila - Na escola? (galhofa total)
Sara - Não, quer dizer sim. O Natal é uma festa que se faz antes de irmos de férias e num dia qualquer em que a casa se enche de família e eu fico cheio de presentes e chocolates.
Cecília - E de roupa nova… os avós ainda não perceberam que gosto mesmo é de brinquedos (gozo)
Júlia - Parece giro e divertido.
Cila - Na tua casa isso não acontece?
Júlia - (triste) Bem… não me lembro, não. (Entusiasmado) A única vez que recebo brinquedos novos é quando vou ao médico. No outro dia o senhor deu-me 6 (aponta com 2 dedos) pauzitos de gelado. (risos)
Maria - Devias escrever ao Pai Natal, sabes? Ele é porreiro e dá brinquedos a toda a gente.
Cecília - Vem mas é brincar.
Sara - Toma lá uma boneca. Eu ensino-te tudo.
Entra a professora com uma caixa de enfeites de Natal.
Professora - Olá meninos, vamos lá enfeitar esta árvore para o Natal?
Maria - Professora esta é a Júlia, ela vive na rua e agora está aqui a brincar connosco.
Professora - Olá Júlia, queres ajudar? (entrega qualquer coisa à menina)
Maria – Professora, naquele banco costuma estar um velhinho. Conheces?
Susana - Professora, a Maria gosta de falar com aquele velho bêbado e mau que costuma estar por aí.
Professora - Meninos, nem bêbado nem mau, o velhinho ou idoso nunca fez mal a ninguém. Não devem dizer essas coisas das pessoas que não conhecem. Vá lá Maria, o Natal está a chegar, se calhar o senhor foi comprar prendinhas.
Susana - Sim, com ar sujo dele deve ter imenso dinheiro para prendas? (risos, bolsos de fora, gozo)
Sara - Ora se tivesse dinheiro, teria uma casa e tomaria banho. Não andava por aqui sempre sujo e bêbado.
Cila - O meu pai diz que ele vive numa casa assombrada. (uuuuuuu)
Professora - Meninos, isso não se diz. Aquele senhor que a Maria fala, na verdade, é muito simpático e conta muitas histórias. De vez em quando vem à nossa escola fazer uma visita. Alguns dos seus amigos estão por lá. Não devem falar assim…
Sara - Mas professora ele está sempre com a mesma roupa… não deve tomar banho.
Cila - E está sempre com uma garrafa de vinho na mão…
Maria - Não é vinho. É chá… ele é que me disse.
Rebenta a gargalhada.
Susana - Pois o chá faz a cara vermelha (risota). Oh Maria és mesmo tonta.
Professora - Meninos, meninos. Não é só o vinho que faz a cara vermelha, o frio e o calor também.
Elsa - Pois é… tu quando corres ficas todo vermelho…. Bêbado (risota).
Cecília – Mas então quem é este velho?
Professora - É simplesmente um senhor que não tem família e que gosta de estar por aqui. Trabalhou e viajou muito e agora resolveu descansar. Mesmo que fosse bêbado e mau, devemos tratar com respeito, ouviram?
Maria - Ele chamasse Nicolau.
Professora - Tu falaste com ele? (espanto)
Maria - Sim e é muito simpático. Fiz mal professora?
Professora - Bem, se fizeste isso sozinha, sem um adulto de confiança por perto, não fizeste muito bem porque não o conheces e não se deve falar com estranhos. Mas sim, ele é muito simpático e gosta muito de crianças.
Maria - Mas ele é fixe.
O velhinho chega ao seu banco arrastando um enorme saco.
Cila - Oh Maria, o teu amigo chegou. Tem ar de quem vem cansado. (diz uma criança apontando-o)
Sara - Olhem para o enorme saco dele. Se calhar perdeu a casa…
Maria vai em direcção a ele.
Maria - Olá Sr. Nicolau.
Sr. Nicolau - Olá Maria. Que árvore tão bonita que vocês estão a fazer.
Maria - Venha ver. Vou mostrar-lhe os meus amigos e a minha professora.
Maria agarra a mão do velhinho e leva-o em direcção ao grupo.
Maria - Professora, o senhor Nicolau chegou?
Professora - Olá senhor Nicolau. Então como vai? (diz a professora)
Sr. Nicolau - Boa tarde senhora professora. Olá meninos. (diz com um sorriso enorme).
(silêncio)
Professora - Meninos, digam olá.
TODOS - Olá (em coro mas a medo)
Maria - Sr. Nicolau, deixe-os lá. Eles tem medo de si.
Sr. Nicolau - Medo!.. De mim? Então porquê?
Cecília - Porque és velho.
Susana - Estás sempre sentado aqui sozinho como um bêbado.
(o velhinho ri-se)
Sr. Nicolau - E também sou mau, não é?
Elsa - Sim…. Quer dizer, dizem que sim.
Sr. Nicolau - Pois dizem mas nunca fiz mal a ninguém, pois não? Vocês passam por mim todos os dias.
Sara - Olha e também dizem que és rico mas nunca dás nada a ninguém.
Sr. Nicolau - E vocês acreditam nisso tudo, pois é?
TODOS - Sim (dizem em coro meio envergonhados)
Sr. Nicolau - Professora, pode dar-me autorização para dar umas coisinhas a estas crianças amorosas?
Professora - Senhor Nicolau, claro que sim. Tem a minha autorização.
O velhinho abre o seu enorme saco e tira dentro dele o carrinho de bombeiros, a boneca e os seus acessórios, uns patins, uma bola e uns bombons para a professora.
Sr. Nicolau - Ora, tenho cá para mim que vocês devem gostar destas coisas (diz o velhinho).
Todos fazem uma festa enorme, excepto a Maria que fica triste mas em silêncio. Tinha estado ansiosa a ver todos os brinquedos dos amigos e até da professora. Mas ela não recebera nenhum…
Sr. Nicolau – Maria, que posso dar-te?
Maria anima-se mas fica curiosa.
Maria - És tu o pai Natal?
Sr. Nicolau - O pai Natal? Bem. Esse é um velho, gordo, de faces rosadas, de barbas brancas e cabelos cumpridos, não é?
Maria - E de fato vermelho….
Sr. Nicolau - Há pois o fato… Ohohohohoh
Tira o sobretudo e revela o seu fato vermelho e branco de pai Natal. Os miúdos irrompem numa festa e Maria fica espantada.
Sr. Nicolau - Maria vem cá. Que queres para este Natal?
Maria fica emocionada. Faz-se silêncio.
Maria - Gostava que a Júlia tivesse um Natal igual ao dos outros meninos, com presentes. Ela diz que nunca recebeu nada.
Sr. Nicolau - Pois muito bem. Para ti minha pequenina tenho muitas coisinhas. Umas roupas novas, para não andares rota, e uns brinquedos, para poderes brincar com estes meninos mais vezes.
Júlia - Obrigado, muito obrigado Sr. Nicolau das barbinhas brancas. - Júlia abraça-se ao Sr. Nicolau e depois vai juntar-se aos outros meninos.
Sr. Nicolau - Maria… faltas tu?
Maria - Gostava muito que todos pudessem ver o enorme coração que trazes debaixo das roupas sujas de todos os dias. Gostava que todos os meninos te tratassem com respeito em vez de te chamarem mau e bêbado. (silêncio e pausa) Mas fico bem com uma boneca de trapos, tens alguma para mim? (diz toda entusiasmada e curiosa)
(risos)
Sr. Nicolau - Claro que tenho. Já sabia que ias pedir uma coisa assim.
Professora - Meninos…. E para o Sr. Nicolau que temos nós?
Todos os meninos abraçam o Sr. Nicolau e este brincam com eles. Todos os meninos abraçam o Sr. Nicolau e este brinca com eles. Maria dirige-se à plateia e diz:
Maria - Para todos vocês um Santo Natal.

Fim.

A falta de qualidade é propositada :)
Suzy